Incrível a presença que me causas
É só assim que consigo pensar tua ausência
Vejo-te em cada cena
Como era quando estavas em cada delas
Dispo-me de todo orgulho
Do dizer “não era tão assim”
Dispo-me, exponho-me à minha nudez
Na transparência de mim mesmo
Vejo-te atravessando meus mundos
Significando-os
Teus olhares
Aqueles que não gostava
E só os passei a amar quando vi neles que vistes a si mesma amada
Via teus olhos mendigando amor
E fui o mais fundo, e vou...
Esmago-me nessa visão
Até que ela me humilhe
Posto que mendigas aquilo que dás generosamente
Teus olhares me doem
Revelam-me quem sou
Alvo de um amor sincero
Doce, delicado
Um amor em direção a um coração duro
Amargo, que nem sequer amor sabe doar
Sou quem dela se sente amado
Amado como ninguém
Sem desdém
Assim como sou
Que me aceita e me ensina
Que sendo pobre, cego e nu
Dá-me uma riqueza ímpar
Derramas em mim um tesouro
Sendo eu um vazo de lama
Enganas-me quando assim me olhas
Não estás a provar teu amor por mim
Estás a provar o quanto não sei sobre o amor
Teus olhos me atravessam a alma
E não sou eu quem os vejo
São eles que me olham
E sua tristeza é a de enxergar para além
Além do que em meus olhos de fato há
Apenas um longo e indeterminado vazio
Então plantas uma semente
Mas antes, só mesmo o teu amor,
Pode ver alguma terra em que possas cultivar
Só o teu amor pode crer em algo mesmo dentro do nada
Em que possas encontrar uma alma, um espírito
Ou apenas um coração de carne ao invés de pedra
Mas sabes que não tenho coração, sou pedra
E não deixas de acreditar
Sei falar do amor enquanto estás a me amar
Tão perto e distante, entre o que digo
E o que continuamente estás a me mostrar
Tuas palavras ecoam em silêncio
Em gestos e tudo, tudo e sempre mais um pouco
Quando penso haver terminado
Vais um pouco mais além, e mais além um pouco
Mostras me o infinito disso tudo
Desse mundo que conhecestes e queres me apresentar
E apresentas
Ah! Como me humilha o teu próprio coração!
E não é incoerência
É tua ausência que me faz enxergar
A falta que tua presença me faz
Essa do meu eu quando diante de ti está
Um eu inventado, criado, imaginado
Por ti, é claro!
Invenção tua, criação tua, imaginação tua
Sinto-me uma folha em branco
Onde brincas com teus encantos
Com lápis e cores tantos
E teu espírito tão criança
Rasga esse papel em que tu ti lanças
Em letras e rabiscos
Sem lógica nem traços definidos
Inventa-me
E gosto
Gosto de mim
Gosto do que fizestes
Obra de arte
Somente tua
Somente tua
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