Meu desejo por ti fala mais alto
Anuncia-se gritando de cima de um telhado
Espalhando por todo canto o que em meu corpo inteiro anda espalhado
Sem segredos te deseja, e te deseja de fato
Meu desejo por ti destila-se numa briga contra o amor
Escorre em desejo e nesse ensejo te quer toda e inteira
Quer as delícias do teu corpo, quer os teus gemidos de prazer
Meu desejo por ti deseja a ti somente
O teu cheiro e não de algum perfume francês
Teu cheiro e tua pele
Teu suor e aquilo que não sei dizer
E aquele papo de amor malbaratado
Que dê espaço para o desejo que me causas
A minha carne te quer
Essa minha vontade de ti
De me-ter entre tuas pernas
Enroscado em tuas forças
Em tuas coxas
Meu desejo te deseja da cabeça aos pés
Por entre meus dedos os teus cabelos
E o teu seio em minha mão
Ir mais fundo em ti esse desejo em mim quer
Adentrando tuas partes
Sem amor: com toda minha vontade
Quero teus lábios, todos
Tuas poses e tudo o mais
Teus gemidos e pedidos
Quero o teu desejo
Pela frente ou por detrás
Quero tua viscosidade alegre e safada
Quero a puta que se insinua
Mas não quero a puta que dá por dinheiro
Essa dá por amor, ao dinheiro
Não quero amor! Por favor!
Quero a puta que ama dar, e só isso
E se não fosses safada nem mesmo a quereria
Quero os teus passos desfilantes
Cadenciados, delirantes
Roupa íntima no máximo
Teu rebolado atraente
Teus olhares assanhados
Quero o vinho ao sabor do tom maldoso de tuas curvas
Quero tudo o que essa maldade me provoca
Quero que venhas com vontade
Não quero amor
Quero você mesma
Esse amor que parece sempre ser um terceiro na relação
Mas eu quero a dois
Amor é brincadeira
E a única brincadeira que quero
É divertir-me no teu corpo nu
Beijar-te os seios querendo tudo
Quero teu umbigo como taça para uma bebida bem forte
Mas beber apenas o que dele escorrer
Ter a língua seguindo o caminho por onde a bebida escolher
Quero-te na posição de uma fêmea, e não de uma mulher
Quero teus instintos e nada de tua donzelice amestrada
Nada de tua fraca farsa recatada
Quero o teu gozo e o teu gemido estridente
Seja meio que reprimido, por entre os dentes
Ou gritado, ou gemido
O que não quero é teu silêncio dissimulado
Tua castidade santarrona
Quero-te a ti
E não me venhas com outra
Alguns chegarão bem perto do fim de suas vidas e descobrirão que o "fim" que procuravam era a própria vida, pois, a vida é o fim para o qual concorrem todas as coisas.
segunda-feira, 24 de março de 2014
CARNE DA MINHA CARNE
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
QUE É MEU SÓ SENDO TEU
Sim! Tiras-me o que é teu!
E eu que nem te tenho, egoico te peço
Mas sem querer nada (Que tamanha desgraça!)
Que devolva-te!
Essa estupidez que me assola
Digo-me que essas coisas já são coisas minhas
É melhor não conhecer o amor sem ter certeza de que dele quer encher o teu vazio
Não! Nenhum sábio disse isso, senão um!
Pelo menos apenas um pensou naqueles, no mínimo, sete demônios meus
Que se vão quando chegas e sempre trazem na tua ausência outros sete seus
Se de perdão me alimentasse o teu amor
Setenta vezes sete por dia
Então jamais deixarias essa casa sombria e vazia
E é ai que a incoerência do amor urge e grita
Que me deixas tão livre que me sinto preso
Preso a estes, no mínimo, sete demônios: o tempo e espaço, a angústia, o desespero, a possibilidade da liberdade, o medo, o castigo e o nada.
Se é o amor que liberta
O que mais poderia sentir quando não estás me amando?
Escravo! E o que me prende?
A ideia de que tu tiras essa angústia que sou para dançar
E tu és toda alegria, e outra coisa não podes ser
Devolves-me a mim quando me lembras a mim de mim mesmo
Quando me abraças por inteiro
Todas as minhas partes
Sem de nenhuma delas se escandalizar
Tiras-me de mim quando de mim nada tiras
Quando me convidas todo para a tua alegria
E que quer ser também a minha senão não o seria
Tiras-me de mim quando de mim nada tiras
e me abraças por inteiro cobrindo minhas vergonhas
Não que tenhas poder para perdoar pecados! Não é isso!
É que me olhas com esses olhares
E enxergando-me mantém a graça
Ao meu redor os teus braços
E trazes-te a mim
E oferece-me tuas mãos
Para tocarem as minhas
MEU AMOR, ERA PROIBIDO!
Cuidas pouco de mim
Perdoe-me! Não que quisesses que fosse assim!
Quisera eu que fosse como quando é
Quando me atende com teus olhares
E transcendes a minha carne
E transformas cada pedaço em símbolos
Cada membro em mistérios
Mistérios teus, queira Deus os poder suportar
Pois há de se falar naquele amor a si mesmo
Que quando aos seus olhos encontram a grandiosa beleza
Encontra senão a beleza que de si projeta
Ama a si mesmo quando num ludibrio diz amar ao outro
Ah! Estremeço só de saber que pode ser assim!
Que queres atear os teus fogos em mim
E não sei se quando a mesa virar se vais gostar do que enxergar
Quisera eu que fosse como quando é
Quando teus braços me acenam discretamente
Como num sussurro que não diz
Mas que não se pode deixar ignorado o que se tem a dizer
Vai que gostastes mesmo de mim!
Vai que dilatastes a alma, perdestes a calma
E renunciastes a euforia
Vai que me dizes mesmo o que pensas
Sem se deixar enganar pelas fantasias dos versos que lestes
Dos ideais que escrevestes em profundas e inalcançáveis linhas
Vai que deixastes ser minha só porque a si mesmo possuístes
E aprendestes a doar-se de nada carecendo
E nos teus olhares me falastes que amou o assombro
De enxergar tão para longe de si o outro
O outro que sou eu
Que não sei se conhecestes ainda meu nome
Ou se sabes mesmo o linguajar meu
Se sabes porquê gosto ou desgosto
Porquê sou seu e porquê sou meu
Mas o que aqui digo é que cuidas muito pouco de mim
Quando me olhas assim e parte como se não fizesses parte
Como se não fizesses parte de mim
E eu de você? Seria algo também assim?
Partes de mim como a mãe deixa a criança sem saber
Como será o universo dela, tão pequeno, dali em diante
Parte de mim, aquela parte em que cabem todos os sentimentos
Cabem a razão, a não razão, o amor, a paixão...
Qual será maior a partida
Quando partes e parte tudo o que fica por aqui?
Qual será o maior então afinal se tudo isso que se diz ser maior
Cabe num recipiente tal?
A confusão é tanta que não há que se não render
Que maior é o amor que tudo sustenta
Ele sim suporta que o abandones quando vais embora
Mas sou muito menor que o amor
E se me amaste no que se de mim viu
Então também sou menor que tu
É isso que me trazes em tamanha iminência
A desgraça minha desse amor com que me amas
Não que sejas eu o teu predileto
(Esse engano guardo só pra mim!)
É a cadência do amor não tão quieto
Intranquilo
Tanto que me pego descansando em ti!
Se com esses versos ainda não enxergastes
Permita-me ainda prosseguir àquela rua escura
E a solidão é dura quando estás tão longe e tão perto assim
Que isso nem seja chamado de solidão, e que nem mesmo seja
Não é o que o verso diz
É o que me tiras de mim: teus sorrisos, tuas carícias, tuas palavras...
Não me destes nada nem nada me prometestes
Nem mesmo os teus sorrisos, tuas carícias, e as tuas palavras...
Não que eu possa sentir isso, por causa desses castos moralistas
Que têm tudo numa pequena lista
De como que se deve e não existir
A isso dão o nome de loucura
De tudo isso devo pedir perdão, devo me arrepender
Para conservar minha alma pura
Mas perdoem-me a discordância
É que há uma distância entre o que se compreende
E o que se quer de mim compreender
Que o proibido é o inserido
Por estes que nem sequer com um dedo
Podem aproximar aquilo que aconselham
Do que tornam a fazer
É que o teu carinho, o teu afago
São obras da carne ou do Diabo
Se assim é, que belo inferno o que vivo
Onde um feito de amor não é proibido
As delícias das carícias não carregam o conteúdo do perverso
E o deleite um no outro não é egoísta
Não defendo o amor, ele que defenda a si mesmo
Desses que insistem em acusá-lo
De ter nascido ou brotado
Esses que se sentem puros
Que nunca foram amados para além do mandamento amargo
Nunca viram doçura
Veja que bobagem a minha
Já me levantando contra tal tirania
A do covarde e a da covardia
Mas se tu estivesses aqui
Não estarias pensando nada disso
Estaria enredado por outra esfera
Aquela em que quando entro
Faz pensar aos outros tudo quanto é vil
E quem me viu com ela
Escandalizou-se, ou irritou-se
Com essa paixão que sempre ouviram falar
Que chega de assalto, sem avisar
E que nunca bateu às portas deles
Mas quero deixar bem claro
E isso nem é raro
Posto que claramente deixo estar todas as coisas
Sempre quando quis faltar à escola
A verdade que dissera a meus pais fora a minha esmola
Para quem quisesse um dia me acusar
Nunca fui de inventar notícias
Nem de esconder comportamentos
E também nunca me senti obrigado
A falar sobre nenhum deles
Quando me mantive calado
Calado quis estar e dizer algo não podia
Meu amor era proibido
Era proibido, meu amor!
Era proibido!
EM PARTE E POR INTEIRO
Que vontade de escrever um poema
Mas não tenho ninguém a quem escrever
Nem você que lê, que eu mesmo nem conheço
De repente uma me diz: “Escreva para mim”!
Ah não! Você de novo, o tempo todo
E depois que na minha arte
Fiz você deixar de fazer parte
Fiz qualquer parte, de qualquer coisa,
ser essa parte que te pertencia
Sim! Sei da lição
Dois corpos, um mesmo lugar...
Mas não me interessa a impossibilidade
E se o tempo todo aprendi a me alegrar?
Mesmo como você aí!
Talvez agora mesmo, como num instante
Entendi, talvez a arte do infeliz
De se achar infeliz quando longe da amada se alegra
Porém, que tu nunca esquecestes
Ou afastastes de si
Meu eu, sou eu, sou teu
Só, somente acompanhado
Por si mesmo
E não sei
Tua companhia é presente
Como nada mais o poderá ser
MENINA QUE ANDA SOLTA PELA RUA
Menina que anda solta pela rua
Vestido de menina, sorriso de menina
Uma leveza também de menina
E dizes tantas coisas e são palavras tão frágeis
Como os de uma menina
Inevitável não te reconhecer mulher, claro
Mas é que não falo disso
De suas belas e macias curvas
De seus traços delicados
Falo da que me fala de si mesma
E por mais assustador que seja
Transcende ainda mais sobre isso tua beleza
Uma contradição frágil
Quem nunca ouviu esse conto antes?
A menina perdida e o herói feito da oportunidade
Da oportunidade de acolher
Ela, frágil, ele, querendo proteger
E enquanto falavas, nem de certo sei
Se eram nas palavras que estava afim
E desde já me perdoe
Por minhas seguidas contradições
É que observava as palavras escritas em ti
Na expressão do teu corpo
Dos teus membros
Em cada curva dos teus olhos
Em cada gesto de teus lábios
Um jeito de cruzar as pernas
E outro jeito de descruzá-las
Todos os traços entre um silêncio calmo
E outro cheio de ansiedade
Todos os pedidos contidos e incontidos
Uns quase que não ditos
Outros gritados dos telhados
Toda a tua pele tem um tom elevado
Elevado para quem se atreve descrevê-lo
Mas eis o fantástico do corpo
Que permite pelo tato dizê-lo
E não pense que teus calafrios e calores nada me disseram
O aquecer e o esfriar de tua pele mostraram-me tua verdadeira linguagem
Ela me diz quando acreditar ou não em ti
Na menina que carrega o mais belo signo em si
O de ser menina, um jeito menina de ser assim
E há de se conhecer também o teu demônio
Esse teu jeito de menina
Que faz crer que tens a chave que abre todas as portas
A da alegria: leveza e brilho dos tempos de criança
É assim que encantas quando passas pelas ruas bailando em sorrisos
É assim que atrai os olhares vorazes e vampirescos
Que desejam esse teu vigor
Também és desejo daqueles que sonham e poetizam
Resumes em ti mesma o instante da filosofia
Um momento de eternidade no temporal
Contudo, te tornas num instante contínuo
Transcendes a esse instante finito
E é quase necessário cantar um hino
À beleza de tua teofania
Mas diga-me com toda sinceridade, menina!
Que não és isso e nem aquilo
Perdoe-me por me contradizer novamente
É que vi não teu corpo despido
Mas a tua alma nua e ardente
Num jeitinho meigo e impetuoso
Despistes a ti mesma perante mim
E quanta angústia em cada peça de roupa tirada
E também quanta alegria
Até chegar em tuas partes mais íntimas
E então me chamas para a cama contigo
Não é só o teu rosto, os teus ombros
Tuas pernas e tuas mãos que queres que toque
Queres mesmo que sinta toda a tua carne
Todo o teu suor... o teu gemido
Queres tornar conhecida toda a tua dor
E também toda a tua alegre energia
Toda a vontade de se livrar disso
Contudo, ainda mais forte uma vontade de tomar toda a vida em si
E tua intensidade eroticamente delicada
Quente e carinhosa
Uma vontade de ser assim
Por vários motivos que me dissestes
Ardente, intensa, destilando carícias
Como quem sabe tudo o que se deve fazer
E fazes como quem nem precisou saber
Liberdade parece-me o nome do teu querer
Mas há que se dizer também de tua fera
Confesso, uma fera que ainda não sei dizer
Há uma que sai pelos campos e deixa sua presa estraçalhada
Após ter saciado a sua fome
Há outra fera em ti que quer encontrar-se com sua presa
Quer convidá-la para um café quente num dia frio
Dizer que as coisas não são bem assim
E não há nisso mesmo certo instinto animal?
E há que louvar a tua braveza
De ter saído para a caça e ter voltado com sangue nos dentes
E o ventre saciado
Há de se louvar a tua beleza
Que de outra forma sai para a caça
Assenta-se na praça, convida a alma
Para puxar uma cadeira
Há de se falar em tal heroísmo
Aquele sentimento vívido de existir
E dizer para si mesma: “eu”; ouvindo também de outros muitos: “ela”
Como a cena do guerreiro que volta para sua cidade com o grito de vitória
Que seja louvada também a tua outra parte
Que nem sai, nem caça, nem guerreia
Essa que com os pés sobre a areia
E e os calcanhares molhados pelo mar
Caminha mais bela que uma sereia
Por ter belos pés para caminhar
E que seja também feita a grande pergunta
Será que um dia poderás ter alguém próximo ao peito?
Alguém que recostado em teu seio possa te contar
Dos segredos mais ou menos suspeitos
Do tédio e das aventuras da vida
E eis ainda aqui um erro
Um erro meu, confesso
De ter visto-a em parte
E muito depois reconhecer a tua arte
Que como fera sais à procura de verdadeira amizade
Recolhes as tuas garras, desfaz-se de tuas amarras
E viras as costas para que te possa aquecer
E recostar em ti
Eis aqui a tua presa
Nem inocente, nem tanto indefesa
Mas que não vê em ti nenhum perigo
E há que se falar do prazer de assentar-se contigo
Comer juntos, andar juntos
Num tênue fio de estreiteza
Onde uma alma num absurdo da existência
Comunica-se e se faz conhecer à outra
E se entendem e falam uma mesma linguagem
Há que se louvar ainda o milagre
Que nem sendo aquele da multiplicação dos pães e dos peixes
Nem o acalmar das águas do mar
Mas aquele que sacia a alma... e a faz acalmar
Menina que anda solta pelas ruas
Leve, sorridente, bela, atraente...
Menina! Menina! Menina!
Mas por favor, perdoe-me a tolice
É que depois que te despistes
Tornastes totalmente bela para mim
Senti toda a tua pele
Senti teu abismo
Tua liberdade, teu pudor
Teus cabelos, teu calor
Tua voz que já não dizia palavras
Mas suspirava tão perto
Que era capaz de sentir teus lábios
Da forma mais intensa
Era o máximo que podíamos experimentar
Numa linguagem entre mim e ti
A fera e sua presa
PRESENTE AUSENTE DESPEDIDA
Incrível a presença que me causas
É só assim que consigo pensar tua ausência
Vejo-te em cada cena
Como era quando estavas em cada delas
Dispo-me de todo orgulho
Do dizer “não era tão assim”
Dispo-me, exponho-me à minha nudez
Na transparência de mim mesmo
Vejo-te atravessando meus mundos
Significando-os
Teus olhares
Aqueles que não gostava
E só os passei a amar quando vi neles que vistes a si mesma amada
Via teus olhos mendigando amor
E fui o mais fundo, e vou...
Esmago-me nessa visão
Até que ela me humilhe
Posto que mendigas aquilo que dás generosamente
Teus olhares me doem
Revelam-me quem sou
Alvo de um amor sincero
Doce, delicado
Um amor em direção a um coração duro
Amargo, que nem sequer amor sabe doar
Sou quem dela se sente amado
Amado como ninguém
Sem desdém
Assim como sou
Que me aceita e me ensina
Que sendo pobre, cego e nu
Dá-me uma riqueza ímpar
Derramas em mim um tesouro
Sendo eu um vazo de lama
Enganas-me quando assim me olhas
Não estás a provar teu amor por mim
Estás a provar o quanto não sei sobre o amor
Teus olhos me atravessam a alma
E não sou eu quem os vejo
São eles que me olham
E sua tristeza é a de enxergar para além
Além do que em meus olhos de fato há
Apenas um longo e indeterminado vazio
Então plantas uma semente
Mas antes, só mesmo o teu amor,
Pode ver alguma terra em que possas cultivar
Só o teu amor pode crer em algo mesmo dentro do nada
Em que possas encontrar uma alma, um espírito
Ou apenas um coração de carne ao invés de pedra
Mas sabes que não tenho coração, sou pedra
E não deixas de acreditar
Sei falar do amor enquanto estás a me amar
Tão perto e distante, entre o que digo
E o que continuamente estás a me mostrar
Tuas palavras ecoam em silêncio
Em gestos e tudo, tudo e sempre mais um pouco
Quando penso haver terminado
Vais um pouco mais além, e mais além um pouco
Mostras me o infinito disso tudo
Desse mundo que conhecestes e queres me apresentar
E apresentas
Ah! Como me humilha o teu próprio coração!
E não é incoerência
É tua ausência que me faz enxergar
A falta que tua presença me faz
Essa do meu eu quando diante de ti está
Um eu inventado, criado, imaginado
Por ti, é claro!
Invenção tua, criação tua, imaginação tua
Sinto-me uma folha em branco
Onde brincas com teus encantos
Com lápis e cores tantos
E teu espírito tão criança
Rasga esse papel em que tu ti lanças
Em letras e rabiscos
Sem lógica nem traços definidos
Inventa-me
E gosto
Gosto de mim
Gosto do que fizestes
Obra de arte
Somente tua
Somente tua
AMOR, NASCIMENTO, MORTE, AMOR
É só dor o que aqui digo
São sangramentos, febre, vômitos,
Tontura, vertigens, queda de temperatura
Essa doença mortal da qual nunca se cura
E que nunca mata
Continua tênue, temporalmente eterna e pura
Esse embate que vem de encontro
Um acidente hediondo
Entre “eu” e um “diante de mim”
Novamente encontro teus olhos
Nem rasos, nem profundos
Nem altos, nem baixos
Nem para um lado, nem para um outro
Em teus olhares todas as teses e antíteses estão desfeitos
Entro em outra dimensão
Sem teto nem chão
Sem ambiguidades ou relativismos
Vejo o absurdo
O indizível
Vejo minha morte, meu abismo
Se pulo para fora me arrisco
Se pulo para dentro me arrisco também
Se morro ou se vivo não vem ao caso
Nesse caso, nem a morte pode matar
Nem a vida pode salvar
Tese, antítese
Nem morte, nem vida
Essa linguagem estranha que a tudo confunde
Nunca morri, nunca vivi
Sabe-se lá o que seja isso
Porém és síntese, inaceitável
Síntese do que afinal?
São tantos os caminhos, só quero o único
Não vou falar do amor, desse que nunca conhecerei
Provo e desprovo, exaustivo assim
Quando vejo não sou mais o mesmo
E a sensação de que nunca mudei
Por que me deixastes tão livre?
Por que enfermastes meus olhos com tanta saúde?
És transparência, bondade, leveza
Sou apenas duvida
És toda certeza
Eu que nunca estive certo
Estar de ti tão perto me faz cair
Num profundo nada
Sinto-me absorto
Deve ser isso quando dizem: “Está morto!”
Que morte que nada
nem a sedutora palavra: “Vivo!”
a verdade é que não há palavra
a linguagem se perdeu
se quiser dar nomes terei que dá-los agora
Contudo necessito esquecer que o dizer que me ensinaram
Agora não vale nada...
Nem silêncio, nem palavra
O que é afinal a angústia? O desespero?
Pelo que tenho eu de me angustiar?
Pelo que tenho eu de me desesperar?
Talvez por te perder
Perder o amor
Não morrer, mas matar o que em mim há
Não quero, mesmo!
Não vou!
Não consigo!
Não faz sentido!
E que sentido afinal fará?
Nem quero que faça
Sentindo!
Que me importa que não entenda
Saio à chuva para me molhar
Que sentido há?
Caminho sozinho pelas ruas
Sem endereço ou lugar para chegar
Que sentido há?
São tantas as coisas que faço
Sem mesmo pensar
Sem haver algum sentido
São as melhores coisas que experimento
São as delícias que me chegam
Sem avisar me fazem companhia
Mesmo que nem companhia haja
Quando caminho pela calçada
Lembranças e histórias que estão por aí
Nem lá atrás, no passado, nem em algum lugar ao lado
Estão aí, soltas, sendo levadas pelo vento
Com toda sua brandura
Nos alentos de quem me cura
Cura-me de pensar-me doente
Febre ou tontura
Está, como tudo, cooperando para o meu bem
As mãos do Artífice
Estão sempre aí
Que mais posso desejar ou querer?
Nem desejo, nem vontade
Somente o Hoje
Somente o que me foi dado para ser e estar agora
Não peço mais nada, e um dia eu pedi
Mas negaste-me tudo, Amigo!
Tudo dando-me como sempre pedi
Não conhecia Tua linguagem
Quando disse “Paz!” não sabia o que entenderias
Concedeste-te me Paz, exatamente como queria
Mesmo pensando querer outra paz
A Ti me entrego
Vencido pelo Amor, por Ti mesmo
Pois lutei contra Ti
E deixastes-me vencer
Sem compreender
Vencestes a mim quando tudo entregastes
Quando menor que eu te fizestes
Quando me feristes para o Amor
Quando ajoelhastes aos meus pés
E os lavastes
E o que sou eu depois de Tu?
Depois que cometestes tal ato?
Depois que me arrancastes para fora de mim?
Deixastes a Glória dos homens
Quisestes a Glória do Amor
E de nada gloriastes senão em servir-me
Em lavar-me os pés
Em cansar-me no Amar
E vencestes quando por mim deixastes a Ti mesmo ser vencido
E amastes-me até o fim
E não importa lavar-te os pés
Nem mesmo sentido nisso há
Importa lavar os pés daquela a quem amo
Daquela que roubou meus ânimos
E tocou meu coração
Daquela que com tantos carinhos
Mudou meu caminho
Não tem como a ela não ir em direção
Lembrando-me daquele gesto
Que me ensinastes muito antes
Contudo deu-me tal entendimento
Que nela me conquistastes
Em amor, no meu tempo
Tempo escolhido por Ti
E que nunca mesmo escrevi tal coisa
Fostes Tu que abristes o livro
Fostes Tu que escrevestes esta história
Fostes Tu que me ensinastes o Amor
Não há como esquecer
Não há como ser o que era dantes
Um caminho sem volta depois que me olhastes nos olhos
Encontrastes meu ser e me revelastes
Quem sou e quem Tu és
Fizestes novas todas as coisas
Eis-me aqui
Eis-me aqui
MEU AMIGO, ALGUMA COISA ESTÁ MUDANDO
Alguma coisa está mudando meu amigo E não sei bem o que é Mas se lembra quando tudo apenas se repetia Então mudanças já são boas...
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