segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ah coração!

choro

Ai! Ai meu coração! Tanta dor!

Essa imensa flor que fez de ti jardim

E quanto mais em ti se aprofunda

Mas a ti afunda, te mergulha em lugares profundos

E o fundo não existe porque não há chão

Nem teto, nem beira, nem encosta, nem começo, nem fim

É vago, não é alto nem baixo

Nada disso há

Nada disso faz sentido

Houve um dia um precipício

E essa dor  ao te empurrar

Fez inexistir esse início

Nem sabes mais de onde te empurraram

Se é que tu mesmo não te jogastes

Estás se abrindo ao delírio

Como que num parto

E a gestação desse horror ou amor

Não lhe traz outra coisa senão a loucura

Essa mistura envenenada

De uma escolha mal terminada

Dessa atitude não tomada mas deixada aos ventos

Entre a paixão desenfreada e esse amor eterno

Num dia de inverno, sob a calma de braços que também estão nessa estrada

Ah, Coração! Se entregue àquela que te ama

Vá na direção desses braços que te querem bem

Que não quer fazer de você apenas uma noite

Um desarrumar de cama

Mas que quer te tornar eterno posto que não é apenas chama

Ah, coração! Se entregue a estes lábios que te chamam

Que te beijam com todo o desejo de estar contigo

Não apenas um momento, mas quer seguir ao seu lado

Ao relento, suave e tranquilo, e quando vier tempestade

Não fará nenhum alarde senão te deitar no peito que te aconchega

Nessas mãos que te afagam, nesse amor que te deseja

Por toda a vida

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 6)

Ah! Menina dos olhinhos pequenos
Foi tentando me salvar dentro de ti
Que me perdi, me destruí
Estive no inferno a céu aberto
Vi satanás bem de perto
Vi queimar o fogo eterno
No coração, no peito, no rim
Tudo tão cambaleante,
Alteradores de consciência
Esse amor que odeio
Essa doença eterna
Já procurei a porta da saída
Mas essa existência é um quarto sem porta
Sem janela
Claustrofobia
Até que a morte nos separe
Estamos casados nessa prisão
Em vão correrei pelas ruas
O mundo todo é uma ilha
A milhas de qualquer lugar
- Alguém me ajude
Você pode me ajudar?
Heim? Você também está preso?
Não consegue sair?
Venha aqui
Pode ser que juntos abramos uma porta aqui mesmo
Não? Não acreditas? Então vá meu caro
Deixe-me aqui, ainda tenho o meu caco para me raspar
Minha língua para salivar sobre a purulência dessa ferida
Me deixe aqui só
Só me deixe e se puder volte logo
Se não puder é melhor não vir
Saberás se pode
Ainda podes voltar a crer
De que vale ganhar o mundo inteiro
E perder a sua alma?

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 5)

Morte
O que é a morte?
Não a minha morte, mas a do que mais amo
Deve ser isso
Morrer é o revés do parto
é arrumar o quarto para o filho que já morreu
Entendimento
O qual não tenho
Entendo, mas nada justifico
Pensam que por causa de um trauma
Podem dizer “Fiz mas não fui eu”
Quanta bobagem, o ato foi seu
O trauma foi só o álibi
O álibi da loucura que torna a alma escura
Sombria em si só, pelo fato de estar só
Trauma, me dê uma gota de desculpa
Para que eu vomite minha sujeira
Para que eu beba meu próprio vômito
E atônito fique como que embriagado
Pelo cheiro estomacal desse ácido
O cheiro de tudo aquilo que ingeri
Que esteja perto de minhas narinas
Que sugue, que cheire, que eu sinta o gosto
Desse desgosto na língua, que lamba
O pus dessa íngua, que rasteje eu nessa lama
E não me rasparei com um caco
Farei como o animal que lambe suas próprias feridas
Não tenho nojo de mim
Apenas bebo o vinho desse pútrido fato
Desse verme alojado em minha pele
Não quero remédio, quero arranca-ló com as unhas
E rir-me dele, as risadas mais bizarras
Rir-me com toda força da minha alma
Na intensidade que ele me fez rastejar no pó
Rir-me-ei dele
A Queda é profunda, mas quem medirá a Salvação?
Se caio é Deus quem me põe de pé
Eu sei que meu redentor vive
E que por fim me levantará
E me porá sobre a força minguante dos meu próprios ossos
Ainda que cambaleante ficarei de pé
Ainda que com as vistas turvas
Dirá “anda”… E andarei, sem forças
Mas repleto de alegria por ter visto um dia
A mão do Senhor

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 4)

Pois feri a mim mesmo sem entender
E a tudo entendia, mas não conseguia ver
Que era meu espinho, meu ninho
Onde me deitava, e me roçava
O meu amor por ti era minha cama
Mas nunca o aceitaras
Te dei uma flor, pisaste quando se irritava
E se irritava por não me compreender
Pensavas que estava indo contra você
Mas apenas brincava, te chamava a atenção
Queria ver seus olhos olhando nos meus
Em ternura, essa doçura…
Quando então julgavas ser um erro meu
Dar a ti o que o meu amor por ti se deu
Não era a flor, nem a poesia
Era eu aquele que ferias
Eu nada entendia
Te dei meu amor, e o que mais, dar-te, eu poderia?
Cheguei a pensar então que a resposta seria “nada”
Não havia nada em mim que poderia dar a ti
Havia dado o meu amor, tudo de mim
Fiquei confuso ao precisar ser outra coisa
Não era o amor, nem a alegria
Era eu que negavas
Eu todos os dias
Um “Nada” me vi eu
Que trilhei o amor como caminho
Mas se voltou contra mim, nada poderia ser tão ruim
Do que o amor se tornar meu espinho
Auto-destruição
A sociedade sabe quem são os “nadas” da existência
E deles se desviam
No entanto, eu, queria-os encontrar
Me ajuntar a eles, praticar sua abjetas práticas
Procurar aquelas sodomitas raízes
Eu, o mundo, e suas meretrizes
Não, não era o pecado que me movia
Era aquele amor que sentia, desprezado
Que me contorcia
que se tornou ódio por mim mesmo
Ah! Aqueles vis me entenderiam!
Lençóis da escravidão para muitos
A cama da destruição para outros
Para mim o desejo de deixar a existência
Já que minha fé foi abalada
Amor…!? Amor que nada
Hora de sair dessa estrada
Não na prática do ódio
Mas na do suicida, que não quer acabar com a vida
Mas com seu modo de existir
Descrença
Abandono
Se não é assim, então como?
Novamente
Parecem aqueles velhos trilhos daquela velha estação
Em que um dia já estive
Eu, algum vento e solidão
Como alguma coisa que já disse
Quis alguém que me fizesse companhia
Esse foi meu erro maior
Nessa estrada, nesse caminho
Caminhei com quem mais me deixou só
Então descobri
Não era eu, nem do que pensei, nada
Era só a insistência de tentar continuar o que já acabara
Clareza
Eu vi… Tudo à minha volta me mostrava
Ah! Acreditei que o amor curava
Fui como remédio em direção à ferida
Mais ainda me machuquei
Porque você não sai dessa? - perguntei-me eu
Olhe para você mesmo e veja
Não sabes sair não é?
Então eu mesmo respondi
Não consegues desistir
O coração não deixa, não acredita
Como poderia ser assim?

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 3)

Dor
Um crepúsculo silencioso e não mais que suaves assobios de pássaros, e não muitos
Poucos, três ou quatro e uma brisa
Um silêncio perturbador e ao mesmo tempo aconchegante
Mais aconchegante do que perturbador
Um sinal porém não uma direção
Um ir sem saber para onde, sabe-se apenas para onde não ir
Uma carência, um frio
Um beijo
Um  carinho estranho, um bom aroma é essencial
Cheiros
Desejos
Um morango, uma hortelã, um amadeirado, um silvestre
Um forte, outro intenso, outro ainda fraco, ou suave
Uma sugestão, não mais do que aquilo que eu mesmo deseje
Não mais do que aquilo que desperte em mim uma ligeira imaginação
Imaginação que fora dos ponteiros parece eterna, uma eternidade dentro da outra
Pele
Essa coisa que me identifica diante dos olhos
E que desejo e que me desejam
Pernas, lábios e sinuosas curvas, curvas expostas e outras escondidas
Sugerem, incitam, completam ou completaria
Esse vazio, essa angústia
Seria perfeito, a satisfação do desejo
Mas é curto, passageiro
Gozo
Não mais que um segundo de eternidade dentro de eternidades de eternidades
Então
Pernas comuns, lábios comuns, curvas sinuosas mas comuns, curvas expostas e outras que não quero ver mais
Uma falha
Um novo desejo, desejo de outras pernas, outros lábios, outras curvas
Outras que me estejam escondidas, ainda não descobertas
E não vou mentir para você
Não são curvas nem lábios
É o desejo
Mas o que o move?
O que move esse desejo?
É desejo por que?
A dor, a angústia, o desespero…?
Não me importa o que é o desejo, apenas o que o move
A dor é ferida; a angústia, caminho até a vida
O desespero, falta de saída

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 2)

Efêmero
“Tudo passa” diriam alguns
Os pessimistas diriam que o pior nunca passa
Os otimistas diriam que tudo está como deve estar, bem
Não gosto de rótulos, não encontro nada que rotule o meu existir
E me diga que deve ser assim ou assado
Diria que tudo passa e torna a ser outra vez
O vazio parece ser eterno mas basta a angústia ou a alegria (não a felicidade)
Para tornar todo o vazio um esquecimento do qual  (me perdoem a redundância)
Não se lembre tê-lo vivido uma vez sequer
No entanto basta a rotina de sucessivos sentimentos intensos
Para torná-lo, o vazio, vívido como se eternamente ele estivesse presente
Talvez ainda mais quando ausente
E então um nada… um espaço de tempo
Um tempo cheio de espaços
Vazio
Perder-se
Não se sabe mais o que é o quê
Nada de leis, nada de regras nem mandamentos
Temer a Deus ainda parece ser o princípio da sabedoria
Uma fumaça desvanescente, um algo visto de longe
Embaçado, obscuro… parece porém não se sabe
Uma possibilidade, uma oportunidade
E o coração vai sentindo que não é por ali
Mas é possível e oportuno que se vá por aí
Mas o coração sabe e nem sei dizer como
Sabe que não me perdi, apenas quero me perder
E porque?
Esses ventos, esses tempos, angústia e vazio
Esse mundo, esse homem do século XXI, essa Era
São poucos os que se encontram, poucos os que se encontraram
E talvez menor seja o número dos que se encontrarão
Sentidos, sentimentos, razão
Amor
Já se sabe que não é um desejo mas um querer
Mas não apenas um querer, uma escolha essencial
Uma essência que vem de longe. E é tão perto!
Talvez seja por isso que pareça tão longe
Nunca vi coisa tão embaçada quanto aquilo que está bem diante dos olhos
O amor, não a dor! A dor é do ego que declina, em vão tenta resistir

ENTREMENTES EXISTÊNCIA– (PARTE 1)

Não sei, acho que os ventos passaram, eu não vi
Uma sensação de um lugar sem lugar
Um chão rodeado de infinitos vazios
Angústia
Preso ao tempo que não se conta
Já nem sei minha idade
Não sei se os anos dos calendários fazem jus
Aos tempos de intensidades que vivi
Quantos anos dura um período de angústia?
Quantas décadas são sentidas num espaço de tempo sem respostas?
O relógio ficou caduco, seus ponteiros estão mortos
E por ironia ainda matam
Está tudo tão perto…!
Mas também os nossos sistemas de medidas não sabem medir existências
Não sabem mensurar nem a distância nem o tempo
entre um olhar cabisbaixo e um sorriso cheio de lágrimas
Mas não sei, os ventos passaram, eu não senti
Atônito fico como quem teve a casa saqueada pela madrugada
Como um ladrão na noite, esse tempo, esses ventos, esses tempos
Há uma saudade em mim que não é romântica
É dor, é carência, é tristeza
E nisso tudo um sorriso como que uma pausa
Entre a fé e o desespero
Amor! Meu amor! Para onde os ventos te levaram?
Eu sei! Não levaram a lugar nenhum
O seu endereço continua sendo o mesmo
É aquele velho problema das distâncias não mensuráveis
Te sinto tão longe! Para onde os ventos te levaram?
Meu amor! Para onde os ventos me levaram?
Será você? Será eu? Quem foi arrastado por esses tempos afinal?
Fomos nós?
E agora?
A sua mão é uma miragem, e eu vou de mãos dadas
Mas esses ventos… Ah! Esses ventos me fazem lembrar
que só existe a minha mão à procura de outra
Talvez tenha que obscurecer os olhos para não encarar o meu estar só
Para não ver que entre meus dedos estão esses ventos, esses tempos
Solidão
Silêncio

MEU AMIGO, ALGUMA COISA ESTÁ MUDANDO

Alguma coisa está mudando meu amigo E não sei bem o que é Mas se lembra quando tudo apenas se repetia Então mudanças já são boas...