Ai! Ai meu coração! Tanta dor!
Essa imensa flor que fez de ti jardim
E quanto mais em ti se aprofunda
Mas a ti afunda, te mergulha em lugares profundos
E o fundo não existe porque não há chão
Nem teto, nem beira, nem encosta, nem começo, nem fim
É vago, não é alto nem baixo
Nada disso há
Nada disso faz sentido
Houve um dia um precipício
E essa dor ao te empurrar
Fez inexistir esse início
Nem sabes mais de onde te empurraram
Se é que tu mesmo não te jogastes
Estás se abrindo ao delírio
Como que num parto
E a gestação desse horror ou amor
Não lhe traz outra coisa senão a loucura
Essa mistura envenenada
De uma escolha mal terminada
Dessa atitude não tomada mas deixada aos ventos
Entre a paixão desenfreada e esse amor eterno
Num dia de inverno, sob a calma de braços que também estão nessa estrada
Ah, Coração! Se entregue àquela que te ama
Vá na direção desses braços que te querem bem
Que não quer fazer de você apenas uma noite
Um desarrumar de cama
Mas que quer te tornar eterno posto que não é apenas chama
Ah, coração! Se entregue a estes lábios que te chamam
Que te beijam com todo o desejo de estar contigo
Não apenas um momento, mas quer seguir ao seu lado
Ao relento, suave e tranquilo, e quando vier tempestade
Não fará nenhum alarde senão te deitar no peito que te aconchega
Nessas mãos que te afagam, nesse amor que te deseja
Por toda a vida