E qual bondade divina saciará minha fome e sede
Que tenho de toda a tua delicadeza
Que impar como é não se encontra em outros moldes
Moldes com que se amoldam, infelizmente, outras
Nem mesmo essa linguagem pode falar de ti
Nem se possível fosse juntar todas as palavras
Para colher delas toda a diversidade de letras
Tu és outra e única
Faz de todas as outras, outras iguais e comuns
É certo que não entendo
Tornastes inaptos, relapsos, inócuos
Todos os que de ti falam... sem te conhecer de perto
És amor quase que encarnado
Transfigurado no frágil existir humano
És beleza quase que inefável
Mas ainda bem que não és uma deusa
És alguém que posso tocar a face
E por um descuido meu
Pego-me tocando as pálpebras dos teus olhos em pensamentos
E gentilmente dizes para si mesma que é só um carinho
Uma necessidade de te tocar... como uma criança, surpresa, por existires
E estar tão perto
Pego-me encontrando-te em pensamentos
E parece que nunca encontraram o que encontrei
Teus olhos, olhares... e o que de vez me fascina
Tua sina em amar
Minha menina!
Tua sina me encanta
Faz-me sorrir
A lembrança que tenho de ti traz consigo a alegria
E uma certa tristeza gostosa de sentir
Um sorriso semeado nas ruas que sozinhas
Assistem os efeitos que causas em mim
As músicas que se auto interpretam
Para acompanhar tal ensejo
Tal desejo de trazê-la até aqui
Pra bem perto do peito
Como descansando em teu próprio leito
Recostada em mim
Teu amor que se esbanja
Num fascínio sem querer
Numa pergunta (e são tantas)
E as respostas, creio, que já as tenha
Mas me permites o carinho de te responder
Como se me destes a provar algo assim
Que escorre dos lábios num sorriso teu
Que gentileza esse teu jeito
Que quase como um defeito
Me acolhes em ti
Teus olhares deixam-me livre
E não me abandonam
Continuam a olhar para mim
E o amor que neles encontro
Faz-me querer de mim ser parte de ti
Ser desse mundo teu
Onde meu eu quer ser alegre para ti
Tomas-me o que me destes
Sem exigir nada, sem negociar nada
Sem acordos, sem nada escrito ou cravado
Numa tábua cercada de leis
Em teus passos, algo quase que revelado
E quase compreendo
Em teus lábios, carícias escondidas
Por debaixo de tua língua, um favo de mel
Das abelhas mais caridosas
Que sintetizam num tom perfeito
O teu sorriso, esse teu defeito sedutor
Quase que numa única nota
Sombrio seria o teu pranto
Se um dia a visse chorar
Há como dos teus olhos jorrarem águas doces e amargas?
Enquanto a admiro tanto, soa uníssono teu pranto
Teu canto, e no meu canto
Canto também minha tristeza
Desespero em calmaria
Uma acomodação por medo da loucura
Minha constatação mais cruel
O meu amor que por ti é descarado
Como que gritado dos telhados
Como um fogareiro posto em cima duma montanha
Como a alegria leve que emana da criança
Como o dia feito para se fazer novas todas as lembranças
Como aquela conversa que nunca terminamos
Como aquele sussurro que nunca escondemos
Ninguém nunca o soube muito bem
E ainda o procuram saber
És pérola da existência
Beleza contida em si
E o que tenho eu contigo, menina?
Senão amor, paixão
Amo a todos que conheço
Por todos tenho tal apreço
O do de amar quem for o meu próximo
Esse primeiro que aparece diante de mim
Mas por ti tenho o meu endereço
Não vendo, não alugo, não tem preço
Que dele não te esqueças
Que te lembres de mim
Pois às vezes a vejo em minha porta
Enfim, em meu sofá
Sem muito me olhar sentas do meu lado
Sou eu olhando para ti
Ou coisa assim
Por que não soube antes?
Que em instantes tive aquela, a única, que fez parte de mim
Que me devolveu os sonhos, os planos
De construir um jardim onde pudesses brincar
Um jardim feito de ternuras em cada vazo de planta
Em cada canto de porta, em cada janela por onde entra a brisa
Em cada pétala feita de palavras
Em cada cor feita de cumplicidade
Em cada tom feito da gente
Desse amor que quis se assentar
Entre mim e ti
E deu-nos as mãos e nada exigiu para si mesmo
Senão que ao invés de amar a mim
Que amasse esse amor que dele aprendi
Que quando se ama nada quer para si
Quer mesmo que eu a ame como me amou a mim
E quando te percebo vejo que com ele também encontrastes
Vejo-te dando-me algo que só a ele seria digno
Amas-me então com graça, bondade
E nem mesmo disfarças essa beleza criada em ti
Devolvestes-me a mim mesmo
Levando tudo e tudo me doando
Perdi-me: ganhei a ti!
Que nada teria a dar-te
Mas tudo teria ganhando-te
Nada perdi: ganhei o que criou o universo:
O amor... que em teus versos ressoa
Que em tua voz se entoa
Que em teu silêncio ecoa
Difícil é separar “palavra” de ti
É que dizes do amor quando nada moves
Amor… quando nada diz
E se os fazes todos esses e quando deixas de fazê-los
Não és amor em parte, és amor toda e por inteiro
Teus atos dizem do amor
Essa palavra que me lembra teu nome
Tenho ciúmes dessa tua beleza
Tanta pureza que nem sei ser assim
Vejo-me envolto, um pouco e todo
Fazes-me lembrar de mim
Quando criança: aquela felicidade inocente
Quando adulto: aquela inocente felicidade
Não é necessário muita coisa, quase nada
Só a ti e um pouco assim
Esse amor entre nós
Que faz de ti um pouco de mim
De mim um pouco de ti
E basta
Nenhum comentário:
Postar um comentário