Estou doente. Estou doente e sei que estou doente. Não. Nada físico ou “visível”, de fato, não. Estou me tornando estranhamente dependente de um outro ser... Dependente... Tudo se relaciona diretamente com tal pessoa. Ela... Ela Sempre está faltando, estou sempre sentindo falta dela.
... Pequenos olhares, pequenos gestos, jeitos, cabelos, risos, algumas palavras... Quando pensava que não, já era tarde... Me peguei pensando nela o tempo todo. Agora seu sorriso se tornou uma doce memória em mim, sua pele, todo seu jeito de menina-mulher, suas seduções... Gostosamente a tenho em lembranças como em cenas fotográficas.
... Pequenos olhares, pequenos gestos, jeitos, cabelos, risos, algumas palavras... Quando pensava que não, já era tarde... Me peguei pensando nela o tempo todo. Agora seu sorriso se tornou uma doce memória em mim, sua pele, todo seu jeito de menina-mulher, suas seduções... Gostosamente a tenho em lembranças como em cenas fotográficas.
Sim, estou doente. Tudo isso me causa uma sensação de dependência, de necessidade de ser completo nela. A paixão... Uma garganta aberta e insaciável desejando possuir o outro, o ser amado... Tudo se torna intenso... Cada gesto se torna único e por muitas vezes indizível. Os olhos... Sim, os olhos... Já não vêem como antes. Há um novo universo diante deles agora. Qual?
Deixe-me falar um pouco sobre ele, esse tal "universo".
Os olhos não mais vêem coisas "reais" (talvez não devesse usar esse termo,pois, pode ser que agora é que as coisas se tornem de fato reais). Olhar as estrelas no céu é ver um véu negro enfeitado por astros celestes que reluzem o brilho de sua própria beleza. Aqui, na terra, tudo se transforma em cenário. As árvores são atores coadjuvantes, as luzes dão foco à cena, os tons e cores são arranjos divinamente arquitetados para que a cena seja perfeita. Loucura? Sim, diria que sim. Provocada por Ela. Sem ela, estrelas são só estrelas, o céu não é mais um véu mas um infinito e amargo vazio. Não há mais cenas, nem cenários, nem arranjos, nem mais penso em coisas divinas. Não. Sem ela os olhares perdem o seu brilho, estão cegos novamente.
Desde cedo quando acordo, sensações e sentimentos me tomam, um forte sentimento de ligação, como se ela fosse a fonte da qual jorrasse vitalidade para o meu Ser. Ela é remédio para minha cura mas que propositalmente me é dado em doses menores do que o necessário, tornando-me dependente dela todos os dias da minha vida. É ela quem alimenta a doença e a vida. Sim! Ela alimenta todo esse estado de dependência, provocando esse sentimento de falta que ela me faz, toda essa dor de eu querer a possuir por uma estranha e necessária necessidade; estou doente, pois, mais do que a simples vida, ela se tornou em fonte de Vida para mim. Esse é o paradoxo: Ela alimenta tal doença que é a própria saúde dos meus ossos. Sinto-a apegada à minha pele, à minha carne, como câncer que me toma de modo insano e devastador causando dilacerações que só ela mesma pode tratar, mas que nunca irá curar. Não, ela não tem o poder da cura. Só Deus me poderia curar de tal doença se assim o quisesse. Mas não seria Ele mesmo quem criou em mim tal desejo insaciável pela completude do meu Ser num outro?
Lembro-me dos ecos que ainda ressoam em mim, vindos do Jardim do Éden: “...Osso dos meus ossos; Carne da minha carne...". Ela já existia em mim, adormecida por sombras que não me permitiam ver seu rosto. Antes de tê-la visto, eu já a conhecia. Antes de ter visto o seu rosto, me deliciado com seu sorriso, lido o seu olhar, eu já sabia exatamente como eram. Ela sempre esteve em mim, em meus sonhos e devaneios. Era preciso apenas um sopro divino para que a sombra se fizesse ausente, então reconheceria o seu rosto como também sou reconhecido por mim mesmo. Sopro divino... Me fez vê-la... “Osso dos meus ossos; Carne da minha carne”, pois, de mim foi tirada. Vi o que estava oculto sendo revelado bem diante de mim, sonhos sendo trasformados em carne e osso, bastou uma mãozinha do Grande Mistério. E Deus me fez cair em profundo sono, e ao sonhar com ela, ele de mim o meu sonho, formou uma mulher, e trouxe-a a mim.
Rubem Alves diz o seguinte, “A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos, os seus rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado”.
Ela é linda, mas “linda” não é uma palavra que a descreve bem, ela é um SONHO. Ela é a convergência de tudo o que há dentro de mim, ela é desejo meu, é fonte, é ponte, é tudo, é nada, ela e mais ninguém. Ela é completude e ausência, é efêmero e eterno, é doença e saúde, é paz e desaconchego. Ela é lugar para onde corro, descanso e inquietude, abraço e abandono. Ela é água da qual tenho sede... Ecos do Jardim do Éden.
“Ah, entranhas minhas, entranhas minhas!” Estás enferma de algo incurável, para que todos os dias sacie-se nela.
Como disse, estou doente. Estou doente e sei que estou doente, e não quero me curar.
"A melhor cura para o amor é ainda aquele remédio eterno: amor retribuído." - Nietzsche
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